“Portugal está entre os 20 destinos mais competitivos do mundo”
27/01/11, 00:05
Por Almerinda Romeira
Em entrevista, José Carlos Pinto Coelho, o presidente da CTP analisa a gravidade das medidas do Código Contributivo e constata as dificuldades das PME para aceder à banca. Diz ainda que, a concretizarem-se as previsões de recessão económica, há empresas que não vão suportar novos encargos. Deixa, no entanto, um sinal de esperança: há investidores atentos à conjuntura e com capitais próprios avultados, que aguardam com impaciência oportunidades de negócios, num País/destino que está no top 20 dos mais competitivos do mundo.Por Almerinda Romeira
Quanto pesa o sector turístico na criação de riqueza nacional e de emprego?De acordo com os dados da Conta Satélite do Turismo em 2009, no que respeita à Procura Turística, o sector representou 10% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto na óptica da oferta o Valor Acrescentado Gerado pelo Turismo (VAGT) contribuiu em 4,8% para o VAB da economia, representando uma das principais actividades económicas do País e responsável por muitos milhares de postos de emprego.
Como está a saúde das empresas turísticas do ponto de vista da sustentabilidade do negócio?
Vivemos uma conjuntura difícil que afecta todos os sectores da economia. As empresas estão a envidar todos os esforços para resistir o melhor possível para ultrapassar estes tempos conturbados.
Como está a tesouraria das empresas?Encontram-se em algum stress, sobretudo no caso das empresas que se encontram mais dependentes de um menor número de mercados emissores, segmentos de mercados, motivações da procura, operadores turísticos, etc.
E o recurso ao crédito bancário?
O acesso está difícil, sobretudo no caso das PME e das start-up. Face à conjuntura actual, os bancos estão mais prudentes, exigindo mais capitais próprios dos investidores. É importante que as empresas possuam um Balanço sólido, um histórico de saudável relacionamento e demonstrem criatividade para enfrentar as adversidades, convertendo ameaças em oportunidades e pontos fracos em pontos fortes.
Do que sabe, há muito investimento turístico planeado para 2011 em Portugal, ou de empresas portuguesas no mundo?Existem alguns investidores atentos à conjuntura e com capitais próprios avultados, que aguardam com alguma impaciência oportunidades de negócios. Podemos dizer que existem dois grupos de investidores: um a comprar numa perspectiva de longo prazo (private equity) e o outro numa base meramente oportunista (vulture funds). Contudo, fruto da situação a que se assiste, a aversão ao risco é ainda elevada pelo que a selectividade é bastante maior que no passado, focando-se a atenção sobretudo em activos "valiosos", localizados em zonas prime, isto é, o produto certo na localização adequada. Algumas destas transacções far-se-ão sobretudo através da compra aos liquidatários ou através da compra directa de crédito junto dos bancos financiadores, quase sempre com desconto.
O Código Contributivo entrou em vigor no passado dia 1 de Janeiro, apesar da vossa oposição, da oposição da maioria das empresas portuguesas e dos partidos da oposição, que pretendiam o adiamento por um ano. Quais são as medidas mais gravosas para a actividade das empresas representadas pela CTP?As medidas mais gravosas são transversais a todas as empresas, independentemente da sua dimensão ou sector de actividade, o que explica que a oposição em causa não seja exclusiva da Confederação do Turismo Português (CTP), mas também de outras confederações patronais, partidos políticos e principalmente das próprias empresas.
Uma das medidas mais gravosas para o sector representado pela CTP consiste no aumento da taxa contributiva em 3% para os contratos de trabalho a termo, e cuja entrada em vigor será, em princípio adiada para Janeiro de 2014. Ainda assim, tal não deixa de suscitar enorme preocupação a um sector fortemente marcado pelos ciclos próprios das actividades sazonais, e que não consegue atingir níveis de eficiência e racionalidade económica sem recurso a este tipo de contratos.
Destaco ainda, entre outros aspectos gravosos, a elevada taxa contributiva para os contratos de trabalho de muito curta duração, cujo pagamento é da responsabilidade exclusiva do empregador, o que poderá inibir o recurso a um tipo de contrato criado recentemente pelo Código do Trabalho, e que representa uma resposta concreta a situações muito específicas, não só para o Turismo mas também para a Agricultura. A entrada em vigor do Código merece-nos especial apreensão, sobretudo porque a sua entrada em vigor vai coincidir com um ano em que se anuncia uma recessão económica.
No curto prazo, que consequências vai ter para as PME, em geral, a entrada em vigor deste quadro normativo?Como referi anteriormente, o quadro normativo em causa é transversal a todas as empresas, independentemente da sua dimensão. Naturalmente que o impacto das contribuições para a Segurança Social será tanto maior, quanto menor for o volume de negócios de uma empresa.
As PME, assim caracterizadas com recurso a este critério - volume de negócios - poderão vir a enfrentar um cenário financeiro de alguma complexidade pela menor maleabilidade dos respectivos orçamentos e dificuldade de assimilação de novos encargos. Nestes casos, uma das consequências possíveis poderá ser a da redução de custos como forma de compensação e de promoção do equilíbrio orçamental, o que poderá ser prejudicial a outros agentes económicos.
Concretamente no que respeita ao alargamento da Base de Incidência Contributiva, dada a conjuntura económica adversa, os efeitos da medida não se virão a revelar contrários aos efeitos esperados pelo Governo?
Efectivamente existe essa possibilidade. A necessidade de financiamento da Segurança Social, e que fundamenta algumas das medidas em causa poderá, em vez de se traduzir num aumento de receitas, ter um efeito contrário e provocar um acréscimo de custos em prestações sociais, em especial, o subsídio de desemprego.
A concretizarem-se as previsões de recessão económica no próximo ano, e de um contexto economicamente difícil para os anos seguintes, crê-se que algumas empresas não vão suportar novos encargos ou o aumento dos já existentes.
Perante este cenário, poderemos continuar a assistir a um número de processos de insolvências e de despedimentos colectivos, que apenas contribuirão para o aumento de custos da Segurança Social. Esta situação preocupa-nos face ao eventual aumento do número de desempregados de longa duração.
Por outro lado, existe o receio crescente de que o emprego criado ofereça salários inferiores aos anteriormente praticados como forma de compensar os custos expectáveis com o acréscimo da carga contributiva. De notar que salários de valor inferior implicarão uma redução no montante das contribuições e quotizações.
É imperioso criar condições que favoreçam o crescimento económico, começando, desde logo, por uma redução dos actuais custos de contexto.
Numa escala de 1 a 20 como classifica a competitividade da indústria turística portuguesa?Estamos entre os 20 países mais competitivos do mundo. Em 2009, Portugal posicionou-se, pelo segundo ano consecutivo, no top 20 dos destinos mais competitivos do mundo para a atracção de investimento nos sectores do Turismo e Viagens. De acordo com o índice de Competitividade Viagens e Turismo, elaborado pelo World Economic Forum, o nosso país encontra-se na 17.ª posição a nível mundial. O Índice de Competitividade refere a facilidade de criação de empresas, a hospitalidade dos portugueses e o número de locais e monumentos classificados como Património Mundial como pontos positivos a favor de Portugal.
Porém, este posicionamento não está assegurado para sempre, temos de trabalhar arduamente para manter o lugar e, se possível, subir no ranking.
Com a cultura, a gastronomia, o clima, o povo que tem, Portugal bem poderia ser um paraíso turístico, estrategicamente posicionado entre a Europa, a África e a América. O País ainda está a tempo de tornar esse potencial realidade?Claro que está sempre a tempo e é para isso que trabalhamos diariamente. A propósito da Cimeira do Turismo Português, esperamos que quem nela tenha participado tenha saído enriquecido com as contribuições de todos os oradores e firmemente convencido que temos de mudar para garantir o sucesso no futuro, e que a visão, os conceitos e as ferramentas estão ao nosso dispor. Outros, como Rudolph Giuliani, em circunstâncias particularmente difíceis, foram capazes de decidir, agir, mobilizar e concretizar. Basta querer!
"AS CIDADES DO SÉCULO XXI SÃO VERDADEIROS PÓLOS DE CRESCIMENTO ECONÓMICO"
O Centro de Congressos do Estoril acolheu, este mês, a primeira Cimeira do Turismo Português, organizada pela Confederação do Turismo Português, sob o tema "Cidades, Pólos de Crescimento Económico e do Turismo no Século XXI". José Carlos Pinto Coelho diz ao PME NEWS o que é preciso para tornar as cidades portuguesas e Lisboa, em particular, um destino turístico competitivo a nível mundial.
Porque escolheu "Cidades, Pólos de Crescimento Económico e do Turismo no século XXI" para tema da Cimeira do Turismo Português em 2011?A Cimeira do Turismo Português surge numa altura em que o turismo urbano tem vindo a ganhar importância crescente, sendo hoje apontado como um dos motores para a recuperação económica. As cidades do século XXI são consideradas verdadeiros pólos de crescimento económico ao qual se deve dar particular atenção, sobretudo atendendo à era da globalização, em que as cidades competem a nível global. É fundamental aproveitar as vantagens diferenciadoras. Na Cimeira iremos debater casos de estudo e respostas aos desafios que as mudanças sociais e económicas nas sociedades e nas economias colocam e como inverter a tendência de perda de competitividade que Portugal sofreu nos últimos anos.
O que é preciso para tornar Lisboa um destino turístico competitivo a nível mundial?
Antecipar as tendências de evolução da procura de destinos urbanos e estar atento às estratégias dos principais concorrentes directos (nacionais e internacionais) das nossas cidades.
Que outras cidades portuguesas têm potencial para figurarem entre as primeiras nos rankings mundiais da competitividade?
Num primeiro nível: o Porto.
Num segundo nível: Faro, Funchal e Ponta Delgada, por exemplo.
À distância de 20 anos, como perspectiva a repartição das várias formas de turismo no "bolo" turístico nacional? Como se posicionará a indústria?O sector manterá certamente a liderança das exportações de bens e serviços, será mais competitivo, com maior capacidade de resistência a crises e com maior valor acrescentado para clientes, empresários e colaboradores. O futuro do Turismo dependerá em grande escala da evolução que o sector dos transportes vier a registar, sobretudo o aéreo.
Os últimos dados do Euromonitor apontam para que a indústria do Turismo recupere até 2016. Nos próximos anos, o sector vai ter de se esforçar para ultrapassar o impacto que a desaceleração sobre a procura turística provocou e esse será um dos seus maiores desafios. Para Portugal, a Euromonitor International prevê que em 2013 as chegadas de turistas atinjam 15 milhões e as receitas turísticas dez mil milhões de euros. Por outro lado, o WTTC - World Travel and Tourism Council estima um crescimento da Economia do Turismo, entre os anos de 2010 e 2020, de 4% ao ano.
Tornar as cidades mais competitivas do ponto de vista turístico implica investimento. De quem?Implica investimento em estreita colaboração e coordenação dos sectores público e privado, procurando-se ter uma visão de médio/longo prazo norteada por objectivos claros. Numa altura em que os recursos são escassos, importa aplicá-los onde o retorno seja maior e mais sustentável a prazo.
Acredito que existe uma sinergia muito forte entre o turismo sustentável das cidades e as novas formas de governação das cidades. É importante ter cidades organizadas para que todas as componentes funcionem tornando-as mais produtivas e competitivas, gerando riqueza.
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